domingo, 19 de setembro de 2010

Entrevista com Daniel Duran sobre o I Festival VEG


por Vinícius Mello, para o VISTA-SE.COM.BR | publicada em 24 de outubro de 2011

Quais expectativas você tem com o evento?

DANIEL DURAN – O primeiro desafio é organizar um evento desse porte no ABC. Falo isso porque as coisas são centralizadas em excesso na cidade de São Paulo, ou melhor, em especial na região central e em alguns bairros de São Paulo. São Caetano do Sul é uma cidade com mais de 150 mil habitantes e não tem nenhum restaurante vegetariano. Em Santo André há dois. Nas outras cidades que compõem o Grande ABC não sei da existência de nenhum restaurante ou lanchonete vegetariana. E é uma região gigantesca, com mais de 2 milhões de habitantes. E não há propostas. O que faz perguntar se haveria procura por esse tipo de serviço. Acho que, por tímida que seja, há. Um bom exemplo disso é o restaurante Villa Natural, aberto há 3 anos na cidade de Santo André, distante do centro. Nos finais de semana há filas de espera na porta. O salão, com cerca de 150 lugares, fica lotado. Claro que isso é mérito do restaurante. A comida é excelente. Mas também mostra que há abertura, há interesse, mas faltam propostas concretas. Recentemente dei um curso de culinária vegana em Santo André, fechamos a turma com 25 inscritos e tivemos algumas pessoas que ficaram na espera. Não duvido do potencial da região. Essa, portanto, é uma das expectativas do Festival. Plantar uma semente. Contribuir para a formação de um público, não necessariamente vegetariano, mas mais aberto, mais informado, apreciador da culinária vegetariana, mais consciente em relação ao que consome. E quem sabe, um futuro vegetariano ou vegano. Enfim, as coisas têm seu ritmo pra acontecer. Queremos contribuir pra isso.

Que importância esse evento tem para o veganismo?

Para muitas das pessoas que irão participar do festival, esse será um primeiro contato mais substancial com o veganismo. Acho que nisso reside a importância de um Festival como esse ou de qualquer outra proposta semelhante a essa: espalhar informação, dar exemplos, propor, etc… É uma maneira de expandir, de tornar viável coisas maiores. Apenas com a participação de cada vez mais pessoas é que se fará possível seguir adiante com a ideia do veganismo. Por exemplo, o Festival, ao dar visibilidade aos pequenos produtores que participam da praça de alimentação e do bazar, contribui para gerar esse tipo de economia local, auto-gerida. E para fortalecer as propostas individuais desses produtores.

Por que é importante outros veganos participarem do evento?

A presença dos veganos é fundamental, assim como a presença do público em geral. É importante alguém que está começando a se interessar por veganismo, conhecer pessoas que já estão mais familiarizadas com o assunto, que já transpassaram as dificuldades iniciais, que estejam vivenciando na prática essa ideia. Lembro que quando virei vegano, aqui mesmo em São Caetano, tive a sorte de encontrar ao acaso pessoas que na mesa época estavam tomando a mesma decisão. Quando digo ao acaso, é ao acaso mesmo, a gente se achava na rua, por causa de uma camiseta de banda ou de libertação animal. Disso pode nascer um diálogo. É uma troca de experiência.

Por que haverá um momento de debate?

Na verdade irão acontecer rodas de conversa. Serão dois temas, o primeiro é ESPORTE & VEGANISMO onde a idéia é trocar informações sobre o veganismo aliado à prática de esportes, alimentação adequada e suplementação vegana. No segundo, o tema é PAIS & FILHOS VEGETARIANOS, onde a proposta é uma troca de informações sobre experiências de criação de filhos vegetarianos ou veganos. Muitos dos participantes desses bate-papos tem experiência pratica com o assunto e essas conversas funcionam para abastecer as pessoas de informações e atitudes práticas que facilitem seu modo de viver.

Como você se sente trabalhando pela causa vegan?

Fico feliz em ter um trabalho que me permite divulgar uma ideia na qual acredito e pratico. Acho que temos sorte. A Luisa e a Ellen (organizadoras do I Festival) também caminham nesse sentido, assim como muitas pessoas que, não só dentro do veganismo, estão se movimentando para desenvolver um tipo de trabalho com um maior grau de autonomia e identificação. Esse lance do artesão, sabe? Do sapateiro, da costureira. Esse tipo de trabalhador, cada vez mais raro, tem um poder de interferência em seu próprio trabalho com potencial suficiente para permitir que ele exprima sua criatividade naquilo que produz. Vejo que a importância do veganismo é abrangente, vai além dela própria. É um exemplo prático de consciência de consumo. Numa sociedade altamente industrializada onde quase nada do que consumimos, seja para comer, vestir ou se entreter, é fabricado por nós mesmos, é crucial o desenvolvimento de uma consciência de consumo compatível com essa situação. O veganismo, nesse ponto, é capaz de conciliar teoria e prática de uma forma funcional e impactante. É uma experiência que te convida a chamar para si mesmo a responsabilidade da forma como você interage com o mundo.

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Veja aqui as fotos da primeira edição do Festival Vegano